segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O pesadelo dos donos da moral

Nesse último mês eu decidi estar certa em estar errada. Decidi que a minha "preguiça das pessoas" é natural, mas só porque eu ainda sou normal, dentro do meu conceito de normalidade, é claro. Minha preguiça é procedente de um mundo sem razão, de um mundo moralista, patriarca, idealista, um MUNDO de pessoas que querem dar lição de moral por isso ou aquilo, julgar por isso e aquilo, e ao mesmo tempo um mundo onde pais jogam crianças pelas janelas, filhos CORTAM a mãe em pedaços e jogam no rio, um mundo onde mulher importante é aquela que rebola a bunda grande na tv. Falar de moralismo já é ser moralista. E eu tenho alergia à esse falso moralismo. Ninguém é nada pra falar se você é PRETO, BRANCO, MACONHEIRO, GAY, OU MULHER, aliás, em um mundo desconcertado assim, é audacia demais julgar alguém, o "julgar" é sempre muito precipitado: O homem que sai com todas é o garanhão, o bom e é normal, e a mulher que faz isso é considerada muito biscate/vadia. Se você rouba algo pra comer você é preso, está errado, mas roubar sob um disfarce político já é uma coisa manjada, é o conformismo. Por isso eu sou assim, eu acho certo ser errada, ser errada como eu sempre sou errada, ser errada por ter uma cor de cabelo diferente, ser errada por ter essa alergia dos moralistas, mas eu sempre vou ser errada o suficiente por ter essa alergia de quem se acha forte o suficiente pra julgar alguém. Dentro do meu certo estar errado, eu prefiro as coisas que me preenchem, as pessoas que são suficientemente fortes para aguentar a minha personalidade forte, a minha instabilidade, a minha bipolaridade, e principalmente as que não me julguem por ser assim, porque não cabe a ninguém aqui fazer isso. Estou dando preferência à pessoas que entre idas e vindas são suficientemente leais para estar ao meu lado nos altos e nos baixos, e essas pessoas são contadas nos dedos, mas elas existem, e apesar de eu ter inúmeros defeitos e ser um pouco inflexível às vezes, as pessoas que valem a pena realmente sabem que tem a minha mão estendida eternamente, e pra qualquer coisa, porque eu sou assim, e eu dou muito valor à quem eu sei que vale, eu dou valor até demais. Algumas coisas nesses dias me deixaram vendo tudo sob os olhos lacrimejados de uma solidão mundana, mas quando eu me dei conta, eu não sou errada de ser errada, só debaixo dessas lentes que você enxerga (ao invés de só perceber e deixar passar) quem realmente está do seu lado. Por saber, tomei minhas decisões, a solidão (ou a falta dela) é relativa, a maior coisa é saber que a sua paz interior não depende de ninguém. E dessa paz que eu sinto agora se é chamada solidão, é isso o que eu quero, a solidão. Eu prefiro a veracidade das coisas, eu prefiro estar bem comigo mesma, foi a melhor das decisões que tomei, pensei no quanto eu dei de mim mesma e não vi reciprocidade em quase nada, pensei em passado, em presente, e isso me mostra que não tem porque ter, que não tem porque sentir o sangue na garganta e se conformar com ele, não existe arrependimento, dessa vez eu parei para cuspir esse sangue, esses possíveis passados e presentes me fizeram parar para pensar e eu decidi que eu sou suficiente racional para não querer um futuro assim. Bem ou mal, cedo ou tarde eu decidi que não é o que me preenche, ou pelo menos não mais, o que antes me alimentava agora me dá ansia. O que eu vejo agora é que o que se foi não tem volta, e quem ficou, ficou e só multiplicou a intensidade, o tempo faz isso, o tempo prova quem é quem, em relacionamentos, em amizades, em tudo... eu decidi fazer o melhor pra mim, botar para foder, queimar tudo e pensar em MIM, eu só tenho uma vida e dela quem cuida sou eu.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Povo Brasileiro

- Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca.
Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida; pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza; aceitar que ONG’s de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade… Não protestar cada vez que o governo compra colchões para presidiários que queimaram os deles de propósito, não é coisa de gente solidária. É coisa de gente otária.
Brasileiro é um povo alegre. Mentira. Brasileiro é bobalhão.Fazer piadinha com as imundices que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada. Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo , ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai. Brasileiro tem um sério problema. Quando surge um escândalo, ao invés de protestar e tomar providências como cidadão, ri feito bobo.

-Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira.
Brasileiro é vagabundo por excelência. O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país, surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade, são oriundos do povo. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês, para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe lá no fundo que se estivesse no lugar dele faria o mesmo. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.

-Brasileiro é um povo honesto. Mentira.
Já foi; hoje é uma qualidade em baixa. - Se você oferecer 50 Euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso. Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.

-90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira.
Já foi. Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas quando os negros e mulatos retornando da Guerra do Paraguai ali se instalaram. Naquela época quem morava lá era gente honesta, que não tinha outra alternativa e não concordava com o crime.Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como “aviãozinho” do tráfico para ganhar uma grana legal. Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas.Além disso, cooperariam com a polícia na identificação de criminosos, inibindo-os de montar suas bases de operação nas favelas.

-O Brasil é um pais democrático. Mentira.
Num país democrático a vontade da maioria é Lei. A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros, foi executado friamente.
Num país onde todos têm direitos mas ninguém tem obrigações, não existe democracia e sim, anarquia. Num país em que a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita. Se tirarmos o pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques, condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores). Todos sustentados pelo povo que paga tributos que têm como único fim, o pagamento dos privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar.

Democracia isso? Pense !
O famoso jeitinho brasileiro.Na minha opinião um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política brasileira. Brasileiro se acha malandro, muito esperto. Faz um “gato” puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar. No outro dia o caixa da padaria erra no troco e devolve 6 reais a mais, caramba, silenciosamente ele sai de lá com a felicidade de ter ganhado na loto…malandrões, esquecem que pagam a maior taxa de juros do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação, mas e daí? Afinal somos penta campeões do mundo né? Grande coisa…

-O Brasil é o país do futuro.
Caramba , meu avô dizia isso em 1950. Muitas vezes cheguei a imaginar em como seria a indignação e revolta dos meus avôs se ainda estivessem vivos. Dessa vergonha eles se safaram… Brasil, o país do futuro!? Hoje o futuro chegou e tivemos uma das piores taxas de crescimento do mundo.

-Deus é brasileiro.
Puxa, essa eu não vou nem comentar…O que me deixa mais triste e inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da vitória do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira.

Para finalizar tiro minha conclusão: O brasileiro merece! Como diz o ditado popular, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar. Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse e-mail, meus sentimentos amigo, continue fazendo sua parte, e que um dia pessoas de bem assumam o controle do país novamente. Aí sim, teremos todas as chances de ser a maior potência do planeta. Afinal aqui não tem terremoto, tsunami nem furacão.Temos petróleo, álcool, bio-diesel, e sem dúvida nenhuma o mais importante: Água doce!Só falta boa vontade, será que é tão difícil assim?

Arnaldo Jabor

Campeão do Mundo, o tradicional.


Colocaram açucar na erva-mate e chamam de chimarrão tanto quanto o pura-folha. Já é comum para muita gente assar bife na grelha, chamar isto de churrasco e se convencer que é tão bom quanto um costelão 12 horas. Tchê Guri ou Barbaridade são vendidos na mesma prateleira de Luis Marenco e Pedro Ortaça. Por mais que os segundos se esforcem, berrem e tentem se vender com alguma grife, os primeiros serão sempre os mais cultuados sem fazer nenhum esforço. Este é o prêmio de ser pioneiro: se tornar clássico, tradicional e eterno, também sinônimos de imortalidade.


Quem foi rei nunca perde a majestade. Faz hoje 24 anos que o Grêmio é o tradicional Campeão do Mundo do Rio Grande do Sul. Campeão do Mundo "da marca antiga" como se proclamava Jayme Caetando Braun e ninguém contesta. Campeão do Mundo com autoridade, contra os alemães que achavam que fazer o crime contra uma Juventus base da seleção italiana campeã mundial no ano seguinte, seria o mesmo que fazer o crime contra o Grêmio.


O Grêmio estava apresentando seu futebol força ao mundo, não bastava uma vitória chorada com um gol improvável de balão para frente pelos pés de um renegado que o Grêmio representaria o futebol do Rio Grande, isto seria um desrespeito a marca gaúcha de conquistas e resistências. Teria que ser como exatamente foi. Com sangue na testa e força no garrão, neutralizando os alemães no típico futebol-força mas também mostrando que não era só isso, havia técnica para ser usada se preciso fosse.


Hoje é o dia da maior parte dos gaúchos vestir a camisa tricolor imortalizada desde 1983. Uma conquista única para o Rio Grande no Mundial Interclubes clássico, que só os tradicionais do mundo possuem e conquistada de uma forma que nós sim, podemos nos orgulhar. O atual mundial, sem a mesma tradição mas com a mesma grife e credibilidade da "conquista" do Corinthians, pode ser buscado a qualquer momento por qualquer um. Mas e a tradição?


Cristian Bonatto em 11/12/07

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

15 de setembro || JAMAIS NOS MATARÃO!



"Há 105 anos somos um time de luta. Um time que, ao longo do tempo, desafiou o impossível, ignorou o improvável e superou o intransponível. Somos futebol força. Paixão que retumba nas arquibancadas ecoa em campo. Somos um time repleto de glórias, que carrega feitos épicos bordados nas estrelas de uma camisa mística. Há 105 anos, somos o GRÊMIO. Somos o IMORTAL."


"Minha família me ensinou a ser gremista. Mas ser gremista completa, com honra e seriedade, com paixão e devoção, com humildade e quietude. Sentimento pra mim e pro Grêmio, não pro rival. Não escutar o rival, não levar em conta o que o rival fala, não se irritar com ele. Porque o "gremismo" é mais que isso, é algo sem palavras, é orgulho próprio, é superior a desavenças. Ele me ensinou isso. Me ensinou a sempre honrar meu sentimento, ter orgulho de usar a camisa tricolor, até na derrota."


EU TENHO ORGULHO EM QUALQUER MOMEMENTO, SOU GRÊMIO NA BOA OU NA RUIM, SOU GRÊMIO ATÉ O FIM!


NADA PODE SER MAIOR!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Nem existir é mais que um exercício
de pesquisar de vida um vago indício,
a provar a nós mesmos que, vivendo,
estamos para doer, estamos doendo.
"Não me peçam para não amar o Grêmio. Cada gremista escreveu seu nome na eternidade, porque escolheu pertencer a algo muito maior. Nosso sangue é azul, nobre. Nosso coração um eterno plebeu, pronto a rolar nessa epopéia chamada vida. O Grêmio é imortal como a nossa fé a cantar: tricolor, tricolor, tricolorrrrr!!! Grêmio, Grêmio, Grêmioooo...Larara..Larara!"

Apaguem as páginas mais lindas dessa história, devolvam as taças, esqueçam as nossas glórias. Não falem nas conquistas, e nem mencionem as batalhas. Amanheçam as noites da Libertadores, e pintem a América de outras cores. Fechem-me o sorriso, sequem-me as lágrimas, e transformem a minha alegria em dor. Aumentem o meu sofrimento até o último valor. Tirem-me a beleza da mulher Gremista, que encanta o Monumental. Tirem-me também os cantos apaixonados que vêm da Geral. Tirem-me a emoção a cada gol marcado. Tirem-me as belas cores do manto sagrado. Tirem-me as vezes que de ti sinto saudade. Tirem-me a benção da Imortalidade. Só não me tirem a ti, MEU GRÊMIO! Pois se não me tirarem a fala, ainda sou capaz de dizer que tenho ORGULHO EM SER TRICOLOR!

cartas

"Não deixe que minhas erupções de megalomania ou que mnha vaidade ferida incomodem você demasiadamente; e, se algum dia suceder que eu me prive de minha própria vida em um ataque de paixão, isso não deveria ser motivo de grande preocupação. Que fantasias tenho de você!... Cheguei a esta razoável visão de tudo depois de ingerir, por desespero, uma enorme dose de ópio..."

Trecho de "Quando Nietzsche Chorou", de Irvin D. Yalom

segunda-feira, 21 de julho de 2008

i BELIEVED in miracles

Joey Ramone acreditava em milagres, em um mundo melhor para mim e você. Já acreditei mas hoje em dia realmente não creio, o mundo está cada vez mais caótico. Terroristas colocam bombas em locais públicos matando milhares de pessoas inocentes, pais jogando seus filhos pela janela. A polícia se preocupa em prender motoristas levemente embriagados em vez de prender os verdadeiros criminosos que estão soltos por aí (assassinos, políticos corruptos, ladrões, pedófilos) vitimando a população honesta que cumpre com seus deveres e paga os impostos. E a novidade é que agora polícia se tornou o novo inimigo da população metralhando carros sem se certificar que quem está dentro não são ladrões dizimando mais uma vida recém iniciada. Onde este mundo vai parar ?

domingo, 20 de julho de 2008

"Só não se esqueça que atrás do veneno das palavras
Sobra só o desespero de ver tudo mudar
Talvez até porque ninguém mude por você..."

terça-feira, 13 de maio de 2008

Presença de Anita

NANDO - " Me dá um beijo."

ANITA - " Não."

NANDO - " Tem coragem de me negar um beijo?

*Ela olha pra ele, com força. E estoura, com ódio e com vontade de chorar.*

ANITA - " Tem coragem de pedir um beijo pra uma pessoa que te dá nojo? Tem? "

NANDO - " Por favor, Anita, eu errei te peço desculpas! "

*Ela avança pra ele, dedo em riste, nariz empinado, como um adulto falando com uma criança*

ANITA - " Você sabe o que o Armando costumava falar? que não se pode sentir nojo nem pena de quem se ama! Que era melhor sentir raiva do que pena, do que nojo, porque isso é a própria ausência de amor! O armando me falava isso e ele sabia das coisas, era um homem viajado, falava inglês e francês, um artista sensível! Ele não era capaz desses sentimentos. E olha que até tinha razão pra sentir pena de mim, nojo também, porque ele me pegou praticamente na rua, descalça, suja! Mas não. Me levou pra casa dele. Cuidou de mim! Minhas unhas estavam enormes, imundas...e sabe o que ele me falou? "Vem cá, senta aqui, vamos cortar essas unhas! As minhas estavam assim até ontem. Quase precisei de uma tesoura de jardineiro para cortar!" E riu e me fez rir. Entendeu a delicadeza? Ele disse que estava com as unhas iguais às minhas, pra não me humilhar, não me ofender! É com esse tipo de homem que me acostumei! E vem você, que eu mal conheço, e diz que tem nojo de mim? Muito bem! Faça o serviço completo! Tem nojo? Pois tenha pena também! Vai ver é isso mesmo que eu mereço por gostar tanto de você!"

domingo, 4 de maio de 2008

Sentimentalismo alternativo, ou, a ausência dele

"Eu queria um amor rídiculo, incoveniente, esfixiante e consumidor que não me desse espaço para pensar, queria um amor que me fizesse berrar até a garganta sangrar.Que me fizesse estiletar o braço com com seu nome.Um amor que me escutasse chamando seu nome de cidades a distância e acalmasse o caos do universo com um simples abraço.Um amor cujo beijo me desse frio na barriga e cujo corpo no meu me possuise de tal forma que eu não conseguisse parar de chorar, borrando a maquiagem e inchando meu rosto.E que mesmo nesse estado ele me chamasse de a mulher mais linda do mundo, a única.Que fizesse com que me sentisse virgem e intocada ao desabotoar meu sutiã e percorrer meu corpo com suas mãos.Que me desse dor de cabeça de tanto pensar nele e que essa dor só parasse com um beijo.Alguém que morresse de ciúmes de todos meus amigos e me xingasse toda vez que ficasse inseguro.E que pudesse curar essa insegurança com um simples olhar ou demonstração de afeto.Um amor que me instigasse a tatuar seu nome por lugares espalhados do meu corpo, que pertence só a ele.Que me fizesse comprar seu perfume, e usá-lo em todas as minhas roupas para cheirá-las e senti-lo quando ele não estivesse comigo.Que me fizesse escrever poemas e músicas intensas explicando por A+B porquê de ele ser a razão da minha vida.Que quando lesse se calasse e quando eu menos esperasse, falasse que me amava.Alguém que escolhesse minha roupa, penteasse meus cabelos e pintasse as unhas do meus pés.Um amor que me fizesse cozinhar um jantar a luz de velas com vinho branco e existisse sobre trilha sonora sexy e sedutora.Alguém que eu pudesse contar todos os meus segredos mais intimos e irreveláveis sem medo de julgamento.Que me fizesse escrever cartas quilométricas em rolos de papeis higiênicos.Com que eu pudesse tomar banho de espuma, sair do banheiro nua e assistir filmes debaixo do cobertor no quarto refrigerado.E que o ar condicionado nos deixasse doentes para cuidar um do outro.Alguem a quem eu desse comida na boca, lambuzasse de sobremessa e depois lambesse o corpo inteiro.Alguem com quem eu tirasse milhares de fotos intimas para poder fazer uma parede dos nossos momentos e decora-lás com o sangue do meu dedo.Com quem todos os dias fossem diferente, que todos fossem como a primeira vez.Queria ter asas e dividi-las com ele e quando ele não estivesse por perto me fizesse cair.Queria um amor pelo qual eu pudesse morrer, para torar lindo o ato de viver"

terça-feira, 22 de abril de 2008

versos íntimos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te a lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca de que beija!

confissão

Aborreço-te muito.
Em ti há qualquer coisa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em dourada taça algum amargo fel.

Odeio-te também.
O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também.
Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te.
Aqui toda a minh’alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!

…………………………………………………….
.Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…

silêncio

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te a porta...
Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim!
Ando a vaguear
Em roda a tua casa, a procurar
Beber-te a voz apaixonada, absorta!
Estou junto de ti e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!
Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa...
Escuta!...
Uns leves passos...Silêncio, meu amor!...
Abre! Sou eu!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

"Quanto mais fecho os olhos, melhor vejo
Meu dia é noite quando estás ausente
E à noite vejo o sol se estás presente."

Willian Shakespeare
Ela coloca um disco na vitrola,
um bebop metálico que faz lembrar cocaína.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Ainda que dentro de mim as águas apodreçam e se encham de lama e ventos ocasionais depositem peixes mortos pelas margens e todos os avisos se façam presentes nas asas das borboletas e nas folhas dos plátanos que devem estar perdendo folhas lá bem ao sul e ainda que você me sacuda e diga que me ama e que precisa de mim: ainda assim não sentirei o cheiro podre das águas e meus pés não se sujarão na lama e meus olhos não verão as carcaças entreabertas em vermes nas margens ainda assim eu matarei as borboletas e cuspirei nas folhas amareladas dos plátanos e afastarei você com o gesto mais duro que conseguir e direi duramente que seu amor não me toca nem me comove e que sua precisão de mim não passa de fome e que você me devoraria como eu devoraria você ah se ousássemos.

-Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 17 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher


Pois bem, como tinha esquecido a minha senha deixei de colocar aqui meu liindo e pequeno texto sobre esse dia. Então lá vai ;)


Hoje é dia internacional da mulher, no centro da cidade mulheres caminham e ganham rosas, umas ganham presentes de seus namorados e maridos, raras conhecem a origem da data e a maioria ignora os atos hediondos cometidos contra a mulher. Ignoram nossas irmãs, prostituídas, estupradas, não escolarizadas. Ignoram as que pegam aids dos esposos, ignoram as mães famintas, as africanas mutiladas, as abortivas que morrem porque a vida do feto que não quis valeu mais do que a sua. Ignoram as que apanham em silêncio, as que em silêncio sofrem violências de toda espécie, em todo grau, nos corpos utilizáveis de fêmea, na mente que suporta ser vista como sub humana. As mulheres julgadas e condenadas por toda uma sociedade hoje ganham rosas, é o seu dia, sorria! Hoje vão te estuprar com mais carinho, é dia da mulher. Ignoram as mulheres que calam e as que falam, ignoram as que quando falam, são mandadas calar. As que não tem onde parir nos hospitais, as ridicularizadas, as bolinadas, as tais, as injustiçadas e as intelectuais. A massa contente recebe flores e sorri, feliz com sua condição de segundo sexo, porque hoje é dia da mulher. Hoje a sociedade vai humilhar com a delicadeza das flores, porque é dia da mulher. Continuaremos, sem escola, sem hospitais, sem direito à escolha, mas uma vez por ano, cavalheiros sorridentes e perfumados nos darão rosas. Uma vez por ano haverá mais propagandas de cosméticos e eletrodomésticos para nós, mulheres. E nos sorriremos, esquecendo, que nosso colega de empresa ganha possivelmente mais do que nós para exercer a mesma função, por que o mercado ainda valoriza o trabalho de um funcionário pelo que ele tem entre as pernas e não entre as orelhas. Não me ofereça uma rosa e sim o seu respeito! O dia internacional da mulher existe porque a mais de um século mais de cem mulheres operárias foram queimadas em um galpão por seus patrões, apenas por que queriam salários mais justos. E, hoje, vamos receber belas rosas enquanto ainda somos violentadas por séculos de cultura paternalista. MORTE AO FALOCENTRISMO, queremos igualdade.

Quando as mulheres dominaram o mundo


Conversa entre pai e filho, por volta do ano de 2031, sobre como as mulheres dominaram o mundo.
- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho… Elas planejaram o negócio discretamente para que não notássemos. Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião.Parecia brincadeira. Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo.- E aí, papai?- Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela… Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo, nos inocentes intervalos comerciais. “Oi querida!”, por exemplo, era a senha que identificava as líderes. Celulite eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam O regime.

- E vocês? Não perceberam nada?
- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior: continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneira, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios... Essas coisas de homem.
- Aí, veio o golpe mundial!?
- Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa. Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica. Pobre Presidente…
- Como era mesmo o nome dele?
- William, eu acho. Tinha um apelido, mas esqueci… Desculpe filho, já faz tanto tempo…
- Tudo bem, papai. Não tem importância. Continue…
- Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora!Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona.
- Pai, conta mais…
- Bem filho… O resto você já sabe. Instituíram o Robô Troca-Pneu como equipamento obrigatório de todos os carros, A Lei do “Já-Pra-Casa”, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho, e, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês…
- TPM ?
- Sim, TPM… A Temporada Provável de Mísseis… É quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear…
- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai…
- Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas…

Texto por Fernando Veríssimo, se não me engano.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Naturalmente Artificial

Tudo o que eu consumo é artificial,
Tudo em minha vida é artificial,
Tudo o que eu faço, tudo o que eu sinto,
Até o meu amor é artificial também

Você sempre diz que é natural,
E que é melhor sempre ser assim,
Todos seus modos, todos seus atos
Mas o seu amor é artificial também

Tudo o que eu consumo é artificial,
Tudo em minha vida é artificial,
Tudo o que eu faço, tudo o que eu sinto,
Até o meu amor é artificial também

Você sempre diz que é natural,
E que é melhor sempre ser assim,
Todos seus modos, todos seus atos
Mas o seu amor é artificial também
Até seu amor é artificial também


Tequila Baby - Naturalmente Artificial

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

"Eppur si muove"

Cena 1: lá vem a modelo. Linda. Com aquele andar esquisito, mas gostoso de ver. E as caras e bocas. Na cabeça, um treco estranho que parece uma vassoura. Aquilo que deveria ser uma blusa é um pano enrolado. Que engraçado, no lugar da saia (ou seria um short?), uma tela de galinheiro. Nos pés uma bota cor-de-rosa com salto de 15 centímetros... a mulher parece um ET!
- Mas quem é que vai usar essa merda?
Cena 2: com toda paciência, sento-me para assistir a um dos filmes de Glauber Rocha. Bastam cinco minutos para o desconforto aparecer. Imagens bizarras, interpretações insólitas, texto difícil de entender, montagem inusitada....
- Mas quem é que vai assistir a essa merda?
Cena 3: boto um CD pra escutar: jazz moderno, cheio de acordes esquisitos, com ritmo estranho, fraseados fora de costume.
- Mas quem é que vai ler essa merda?
Cena 4: compro uma dessas revistas alternativas: texto engraçado, diagramação não usual.
- Mas quem é que vai ler essa merda?

É sempre assim: desde que o mundo é mundo tem alguém fazendo uma coisa doida, que a gente não entende, não gosta, não compreende.
- Isso é coisa de loucos!
Pois meu pai recebeu do pessoal da Endeavor, uma ONG voltada ao empreendorismo criativo, uma "Ode aos loucos":

"Também chamados de desajustados, rebeldes e criadores de caso. Aqueles que vêem coisas de uma forma diferente, que não gostam de muitas regras e que não respeitam o status quo. Você pode elogiá-los, discordar ou duvidar deles, endeusá-los ou difamá-los. A única coisa que não pode fazer é ignorá-los, pois eles provocam mudanças. Eles inventam. Imaginam. Resolvem. Exploram. Criam e inspiram. Eles obrigaram a raça humana a evoluir. Talvez eles tenham que ser loucos. De outra forma, como alguém poderia enxergar uma obra de arte em uma tela vazia? Ou sentar em silêncio e imaginar uma música que nunca foi escrita? Ou olhar a lua e imaginar uma estação espacial? Alguns podem vê-los como loucos, nós os chamamos de empreendedores. Pois as pessoas que são loucas o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, são justamente aquelas que o fazem."

Na mosca!
Foram doidos assim que, ao não se conformarem com o jeito como as coisas são, ao não concordarem com as regras conforme elas são, ao não aceitarem fazer parte da rotina, inventaram coisas que mudaram as nossas vidas.
A moda é muito louca? Muito esquisita?
A música é ininteligível?
O filme é chatíssimo?
A revista é doida?
Sim, por sorte.
Muito dessa loucura radical será traduzida em regras, produtos, propostas e conceitos aceitáveis aos "normais". A moda que surge da liberdade de criação do artista vai influenciar a produção industrial e criar uma tendência que pode inovar a forma de a gente se vestir. A tela de galinheiro, engraçada, a princípio, pode virar uma trama que será a moda da estação. A montagem nervosa ou o enquadramento maluco daquele filme transformam-se num recurso para garantir mais dramaticidade, agilidade ou adrenalina aos filmes comercias. A diagramação ininteligível aponta um estilo ou caminho que vai influenciar as publicações convencionais.
É assim com as manifestações artísticas. Aquelas "merdas" traduzidas, adaptadas, multiplicadas serão muito normais no futuro. E ninguém vai se lembrar que um dia foram merdas...
São eles, os loucos, os radicais, os que defendem seus pontos de vista inovadores que vão gerar tendências, que vão apontar os caminhos para a inovação. E na política, na economia, no mundo dos negócios... é a mesma coisa!
As pessoas deveriam entender que é assim a dinâmica da interação entre os homens. Talvez isso as ajudassem a conviver em paz com as idéias "absurdas" com as quais cruzam pelo caminho. Talvez sejam absurdas hoje, mas amanhã...
No entanto, a mediocridade fala mais alto.
A mediocridade processa idéias como um triturador, misturando tudo em uma massa uniforme, eliminando nuanças, detalhes, sabores, cores, transformando tudo em uma coisa só, na maioria das vezes, cinza. E sempre com o respaldo de um líder, de uma tese, de uma idéia.
É assim que o Corão é utilizado como desculpa para o terrorismo sangrento; que o capitalismo é transformado num modelo de exploração, culminando numa proposta de globalização mal entendida, mal gerenciada, mal-explicada; que o consumismo é desviado de seus valores iniciais, passando a servir como desculpa para regimes sanguinários e restritivos; que as religiões servem de base para espertalhões que exploram o povo com programas de TV e sermões vazios; que a reengenharia é transformada em um processo para mandar gente embora; que o amor por um time de futebol vira desculpa para agressões e violência.
O fato é um só: estamos rodeados de inquisidores. Não no sentido de perguntadores, mas da Inquisição mesmo. O mesmo tipo de gente dogmática, que se junta em grupos e assume uma coragem, um poder, um credo, que dificilmente conseguiria sustentar sozinha. Gente como aquela que só não condenou Galileu ao fogo porque ele concordou em negar que sua tese de que a Terra giraria em torno do Sol. Por sorte, Galileu era um daqueles loucos que a gente encontra por aí, que não aceitam a mediocridade, que, mesmo ameaçados, sussurram: "Eppur si muove".

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Anti-social

A pressão para ser sociável me irrita. Querem que eu seja artificialmente dado ao convívio com o resto da humanidade. Há até livros com manuais de como ser aceito pelos outros e fazer amigos. Desprezo tais receitas. Recuso-me a fazer networking. Quem estabelece relacionamento com muita gente por pura conveniência, fica limitado. Precisa tomar cuidado com o que diz, para não correr o risco de desagradar e perder os contatos. Tem de ser vaselina. Fingir simpatia por caras que não tolera. Ir a lugares e eventos que não suporta. Necessita fazer média. E fazer média emburrece. Elimina o conflito de idéias. Sufoca a reflexão. Reprime a manifestação do pensamento. Daí o que o sobra é a idiotice. A misantropia liberta. Sendo um eremita, não devo me preocupar em defender uma imagem. Não tenho de dar satisfação a ninguém. Posso ser independente. Dizer o que o que penso, observo e sinto. E da maneira exata que penso, observo e sinto. Apenas o solitário ganha o direito de ser autêntico atualmente.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Apanhando uma joaninha coberta de sangue e ferrugem, ela cavoucou um buraco enorme na perna, que se escancarava como uma boca obscena e purulenta no aguardo da comunhão inefável com o conta-gotas, que enterra até sumir no interior de sua ferida boquiaberta. Entretanto, sua fissura horrenda e comburente (fome dos insetos em lugares secos)quebra o conta-gotas cravado nas profundezas da carne de sua coxa devastada (que mais parece um cartaz sobre erosão do solo). Mas e por acaso ela se importa? Não se preocupa sequer em remover o vidro estilhaçado, fitando sua anca sangrenta com os olhos frios e alheios de um carniceiro. Pouco lhe importam a bomba atômica, os percevejos no colchão, a dívida do aluguel que cresce como um câncer, a Dinheiro Fácil prestes a tomar de volta sua carne delinquente...Bons sonhos, Rose Pantopon.

Aspirações orgânicas

Queria entender do que são feitos os desejos, de onde eles se originam dentro de nós, de que matéria orgânica, de que reação simbólica entre satisfação e o desconhecido eles são feitos. Estão ali, palpáveis e cheirosos, incitando a tua inteligência, tão engenhosos que um passo em falso e já se tornam missão de outro entusiasta da vida. O que me faz querer um desconhecido mal vestido na rua, mais do que um amor de infância? O que me faz preferir o azul ao roxo, a prata ao ouro, a lua ao invés do sol, o pensamento daquela pessoa que não pode o fazer, ao invés da segurança de um relacionamento recíproco atual? Existem vários tipos: os ocultos, os honestos, os hipócritas, os impossíveis, e os meus preferidos: os constantes. Aquela certeza de que só você pode desfrutar, afinal é seu desejo, seu paraíso, deleite-se. Um dia o sorriso disfarçado quando você se pega pensando nele, já em outro, o medo que acelera o coração só de saber que tem um motivo pra tal pensamento. Acho que a maioria de nós trata seus desejos como fazia com o pote de doces na infância; você sabe que está lá em cima do armário, mas se atrever a mexer nele, é problema na certa, sua mãe que o diga! Mas um dia você acaba pegando a cadeira e subindo até o pote de doces, roubando um deles com esperança de um herói dos livros que leu e a satisfação de algo realizado. Ás vezes esse “dia” demora mais do que o necessário, e a culpa é toda sua, não é mesmo? Gostamos de ignorar o que nos convêm, memória seletiva e apertada, acomodados em nossos próprios corpos, o último lugar permitido para tal fraqueza, acabamos calculando o risco, a recompensa e a possibilidade. Que coisa mais chata! Eu prefiro desfrutar eles dentro de mim, se não é possível espalhar-los por ai, consumo diariamente minha dose de truques e sorrisos, gosto quando me dou conta que eu queria mais do que pensava, aquilo ou alguém, gosto de sentir isso, os olhos que de tempos em tempos se perdem e paralisam no nada, a respiração pausada, a sensação de necessidade, a omissão, a vontade do tato, a agonia do olfato, a despretensão da audição, e claro a visão que contribui e muito pra isso. Todos os sentidos cheios de si, mentalmente programados pra te conquistar e serem conquistados, desejos que eu nem tenho coragem de pronunciar, tamanha desordem que eu causaria na petrificada existência alheia.
Desejo: palavra bonita, sonoramente macia, e fisicamente instável.

Ahh esses humanos que tanto me fascinam!

Mesquinho e inaceitável, o lado podre de nós que infelizmente existe. Desse tipo de “humano”, apenas me questiono até que ponto alguém é mal e o que passa pela cabeça de alguém assim tão desprezível, nada é tão mutável quanto os pensamentos e o ser humano.Digo e repito: humanos me irritam!Porém já reparou como é fascinante quando conhecemos alguém pessoalmente? Essa é a única situação que somos todos iguais (suponho), ai sim você começa a perceber o que eu tento dizer. Essa outra pessoa, você passa analisar como ela se move, o jeito que ela se expressa verbalmente, o cheiro não habitual, a preocupação com as atitudes, o sorriso e os olhos que procuram afoitos um espaço dentro da sua vida... Se é que me entende, estou falando de reações que inevitavelmente se transformam em sensações, vulgo “sentimentos”. Complexo inconstante, isso sim é o que meu mundo se torna cada vez que eu paro pra viver, sinto uma vontade de sempre fazer parte e mostrar para outros o quanto é especial aquele momento, e como é importante vive-lo, talvez eu seja uma idealista ou uma sonhadora sem sonhos, mas apesar de minha simpatia pelos queridos porcos, é de humanos que eu me ocupo. Nunca vou conseguir explicar exatamente o que eu vejo e penso a respeito de tudo isso, mas acho que os que me conhecem já entendem um pouco. Eu não trocaria essa satisfação de ser única entre todos, e de ser todos em um só, por uma existência seguida em linha reta, sem ao menos uma vez olhar pro lado e notar a vida e seus habitantes, afinal We are all dust in the wind...

Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.

A obsessão do sangue

Acordou, vendo sangue... Horrível! O osso Frontal em fogo... Ia talvez morrer, Disse. Olhou-se no espelho. Era tão moço, Ah! certamente não podia ser! Levantou-se. E, eis que viu, antes do almoço, Na mão dos açougueiros, a escorrer Fita rubra de sangue muito grosso, A carne que ele havia de comer! No inferno da visão alucinada, Viu montanhas de sangue enchendo a estrada, Viu vísceras vermelhas pelo chão... E amou, com um berro bárbaro de gozo, O monocromatismo monstruoso Daquela universal vermelhidão!

Por Augusto dos Anjos.

A carta

Não vivemos num mar de rosas, e PRECISAMOS lutar contra a percepção generalizada de que vivemos num mar de merda. Nem tanto ao céu, nem tanto a terra. Aprender com o passado, em vez de esquecê-lo. Enfrentar e ajudar a mudar a realidade, em vez de ficar sofrendo com nossa incompetência e lançando a culpa nos outros. E MUDAR o futuro em vez de aceitá-lo. Quando a gente aprende a valorizar nossas conquistas, talvez descubramos que o destino do Brasil não é traçado por Klebers, por miseráveis nem por ladrões. É traçado por brasileiros que acreditam que podem construir e viver um Brasil muito melhor. Temos de reagir de alguma forma contra a imagem que nos é passada diariamente de que somos SÓ miseráveis , incompetentes, ladrões ou corruptos. Não conheço nenhum time que ganha jogo sem estar motivado ou acreditando que é composto de gente despreparada. E é isso que a mediocridade quer que sejamos: fracos, ignorantes e incapazes de gerenciar nosso destino. Não acho que seja um complô. Acho que é BURRICE mesmo. E acabar com a burrice faz parte da missão de quem ainda vê ESPERANÇA neste mar de mediocridade que querem que nosso país pareça. Vocês já pararam pra pensar que mesmo raciocínio, sobre quem é o mais espertinho, o mais engraçadinho, o mais pobrezinho, que elegeu o tal Kleber ou o Dhomini no Big Brother Brasil, elegeu o Presidente da República? Não é assustador?
Tenho discutido a respeito da nossa nação com pessoas que têm alguma influência e que SE IMPORTAM com os destinos do país e não têm tempo a perder jogando a culpa nos "poderosos". Gente que, como eu, incomoda-se em viver em um país de derrotados e de quente que odeia quem teima em ver ESPERANÇA onde os medíocres vêem complôs, maquiavelismos e maldade.
Mudar o sistema, só estando DENTRO dele. Falando a respeito, escrevendo, publicando e discutindo. Sem medo de expressar sua indignação contra aqueles que querem manipular a realidade. Cortem esse papo de manés pouco favorecidos e incapazes. Juntem-se às pessoas que estão preocupadas em mudar o país, e preocupem-se menos com o status dos que se propõem a discutir o assunto e mais em entender os textos que lêem.