sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Aspirações orgânicas

Queria entender do que são feitos os desejos, de onde eles se originam dentro de nós, de que matéria orgânica, de que reação simbólica entre satisfação e o desconhecido eles são feitos. Estão ali, palpáveis e cheirosos, incitando a tua inteligência, tão engenhosos que um passo em falso e já se tornam missão de outro entusiasta da vida. O que me faz querer um desconhecido mal vestido na rua, mais do que um amor de infância? O que me faz preferir o azul ao roxo, a prata ao ouro, a lua ao invés do sol, o pensamento daquela pessoa que não pode o fazer, ao invés da segurança de um relacionamento recíproco atual? Existem vários tipos: os ocultos, os honestos, os hipócritas, os impossíveis, e os meus preferidos: os constantes. Aquela certeza de que só você pode desfrutar, afinal é seu desejo, seu paraíso, deleite-se. Um dia o sorriso disfarçado quando você se pega pensando nele, já em outro, o medo que acelera o coração só de saber que tem um motivo pra tal pensamento. Acho que a maioria de nós trata seus desejos como fazia com o pote de doces na infância; você sabe que está lá em cima do armário, mas se atrever a mexer nele, é problema na certa, sua mãe que o diga! Mas um dia você acaba pegando a cadeira e subindo até o pote de doces, roubando um deles com esperança de um herói dos livros que leu e a satisfação de algo realizado. Ás vezes esse “dia” demora mais do que o necessário, e a culpa é toda sua, não é mesmo? Gostamos de ignorar o que nos convêm, memória seletiva e apertada, acomodados em nossos próprios corpos, o último lugar permitido para tal fraqueza, acabamos calculando o risco, a recompensa e a possibilidade. Que coisa mais chata! Eu prefiro desfrutar eles dentro de mim, se não é possível espalhar-los por ai, consumo diariamente minha dose de truques e sorrisos, gosto quando me dou conta que eu queria mais do que pensava, aquilo ou alguém, gosto de sentir isso, os olhos que de tempos em tempos se perdem e paralisam no nada, a respiração pausada, a sensação de necessidade, a omissão, a vontade do tato, a agonia do olfato, a despretensão da audição, e claro a visão que contribui e muito pra isso. Todos os sentidos cheios de si, mentalmente programados pra te conquistar e serem conquistados, desejos que eu nem tenho coragem de pronunciar, tamanha desordem que eu causaria na petrificada existência alheia.
Desejo: palavra bonita, sonoramente macia, e fisicamente instável.

Um comentário:

Camila disse...

eu te amo k!
sempre, sempre e sempre!

ass: Corvito (=