terça-feira, 22 de abril de 2008

versos íntimos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te a lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca de que beija!

confissão

Aborreço-te muito.
Em ti há qualquer coisa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em dourada taça algum amargo fel.

Odeio-te também.
O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também.
Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te.
Aqui toda a minh’alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!

…………………………………………………….
.Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…

silêncio

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te a porta...
Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim!
Ando a vaguear
Em roda a tua casa, a procurar
Beber-te a voz apaixonada, absorta!
Estou junto de ti e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!
Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa...
Escuta!...
Uns leves passos...Silêncio, meu amor!...
Abre! Sou eu!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

"Quanto mais fecho os olhos, melhor vejo
Meu dia é noite quando estás ausente
E à noite vejo o sol se estás presente."

Willian Shakespeare
Ela coloca um disco na vitrola,
um bebop metálico que faz lembrar cocaína.