segunda-feira, 20 de julho de 2009

Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não tem perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Eu sei que outro deve estar falando a teu ouvido palavras de amor como eu te falei, mas eu duvido, eu duvido que ele tenha tanto amor e até a maneira de eu dizer. E nesta hora você vai lembrar-se de mim. Na noite envolvida no silêncio do teu quarto, antes de dormir você busca o meu retrato. Mas mesmo que quando não quer me ver sorrir, você vê o meu sorriso mesmo assim. E tudo isso vai fazer que você se lembre de mim. Se alguém tocar teu corpo como eu, não diga nada. Não vai dizer meu nome sem querer a pessoa errada, pensando no amor desse momento. Desesperada não sabe tentar chegar ao fim. E até nesse momento você irá lembra-se de mim. Eu sei que enquanto existirmos lembraremos. E que o tempo transforma todo amor em quase nada. Mas quase eu me esqueço de um grande detalhe, um grande amor não vai morrer assim. Por isso de vez em quando você vai, vai lembrar-se de mim. Não ganha nada em tentar me esquecer. Durante muito, muito tempo em tua vida, eu vou viver.

Não, não, não ganha nada em tentar.
Em me esquecer.

terça-feira, 7 de julho de 2009

...agora eu vou lhe dá uma dica, uma dica
o mundo é tão lindo!
ainda tem eu aqui te querendo, querendo
(ainda por cima tem eu te querendo, te querendo)
acordei pensando nisso...
E o bom da vida é viver bem,está bem, querer bem...
Não me sobrou muito. Meu corpo está triste e minhas idéias mais loucas sossegaram todas em minha cabeça, estou cansada de uma certa ausência de sentido para tudo o que vivo: pago minhas contas, sorrio nas festas, faço número na multidão – o que me ‘alegra’ é saber que ninguém escapa, ninguém que seja de verdade, ninguém que precise comer, sobreviver, morrer um dia. O mundo, claro, ainda me atrai, há ruas e homens que ainda não conheço e sei o que tudo isso significa quando a gente fica pensando assim por mais de dez minutos. Todo mundo já quis estar em outra vida que não a sua, não venha me dizer o contrário, lê aquelas revistas coloridas sobre princesas, mulheres altas e como ser igual a elas, eu deveria estar pensando em outra coisa – que hoje é domingo e posso ficar na cama até mais tarde.

Por que criaram essa ‘fantasia’ toda de felicidade eu me pergunto. Para que fossemos ao cinema e desejássemos a morte por sermos reais demais? Não tenho a segurança dos deuses que controlam tudo da janela de seus apartamentos. Eu sou uma personagem secundária, todo o filme é ali na minha frente, eu sequer tenho falas, entro muda e saio calada, mas aqui entre as minhas pernas eu me caso com cary grant. O telefone nunca toca. Se muito é engano. Querem me vender um plano de saúde. Eu digo que estou morta e é tarde demais. Os russos nos prometeram uma bomba. Aguardo ansiosa. Tudo podia ser bonito. Eu teria pincéis e desenharia, teria amigos que não perguntam simplesmente as horas, bobagens lindas quando ditas numa língua estrangeira. No outro dia eu não voltaria à vida, a vida de todo-o-dia, correta, direta, inflexível – ficaria lá naquela xangri-la, encontrariam-me numa banheira nua e especulariam sobre meus amantes: qual deles não teria suportado me ver nos braços de outro homem? Meu livro seria um escândalo, tudo falso mas rico em detalhes. Não precisaria escrever uma linha – alguém faria isto por mim – escritores vendem a alma fácil.

O sol insiste. Entra pela manhã. Procura meu corpo. Aquece, invade. É só o sol e nada mais está acontecendo que não seja o sol. Daqui a pouco ouvirei música. Virá do rádio. Alguma cantora triste, negra, gostaria de ter um nome francês como o dela. Falará de amor como eu imagino que seja amor, como me disseram que é amor, nada a ver com sujeitos que lhe pagam bebidas. Em seguida, escutarei homens ruidosos. Não estarão vivos por minha causa. Agitam-se numa construção próxima. Mais um arranha-céu nesta cidade que não para de crescer sobre mim. Desta vez se erguerá bem em frente à minha janela. Minha única janela. Bem em frente ao ‘meu’ sol. Meu único amante cativo. Daqui há pouco nem o sol... nem o sol para me ‘aquecer’.

guardado comigo

Gosto de guardar o que vivi. Mas às vezes preciso rasgar tudo, mentir sobre tudo, mudar de idéia. Tenho fechado em meus olhos um álbum de fotos que nunca revelei: nele homens que só eu sei com aquela luz e os poemas que pensei e não disse – não disse ainda ou nunca direi. Seria inútil dizê-los, ninguém sentirá a mesma felicidade percorrendo o seu corpo nem entenderá o amor mais do que eu. Ficará em mim como uma melodia, canção que talvez assobie sem saber para quem a compus.

Depois que ele saiu fiz algumas anotações. Quero dar-lhe um nome novo para que daqui há alguns anos ninguém saiba do que se trata. Nem ela saberá se foi de um filme ou de sua juventude. Todos contarão histórias maravilhosas, ele guardará as que sabe para algumas noites só dele, depois de um livro e apagar a luz. Será que é real depois que acaba? Ou o sonho é um outro modo de experimentar? Seu perfume em outras caras não é seu perfume, sou eu querendo acreditar. Eu inventei seu perfume – depois de alguns anos me esqueci como era. Ele não é você nem nunca será. Não posso sacrificá-lo, tenho que deixá-lo respirar. Serei rude, grosseira, direi que não me importo, será mais fácil se ele me odiar. É para o bem dele que afio minhas garras.

Hoje eu não quero lembrar, vou fazer uma fogueira, há muitos nomes na minha boca que já não sei pronunciar, números de telefone, longas cartas, passagens secretas e promessas que fiz e não cumpri. Na minha vida outro ocupa o seu lugar até que outro venha ocupar e assim eu passo a impressão de que estou seguindo em frente fazendo a roda girar. Este ano bati o meu recorde e não tenho o que comemorar. Contarei vantagem mas será só para disfarçar.

“... aquilo que você não diz mas deixa claro...”

Não sonho mais. Sei como tudo funciona. Você entra, conversamos pouco, não quero saber, você também não quer saber, já não fazemos planos, parece que apenas adiamos algo importante que precisamos dizer um ao outro, não sabemos o que, até acho que sabemos mas não por onde começar, depois esquecemos tudo o que estamos vivendo fora dali e fazemos amor, é leve, é bom, é o que salva, você me abraça, o dia me soa estranhamente inesquecivel, seu telefone toca, eu brigo, não brigo mais, você tem que ir embora, não temos mais tanto tempo, esta noite sonhei que tinhamos um filho, queria falar, não quero mais falar sobre aquilo, estou caminhando nua pela avenida mais movimentada da cidade, não estou caminhando mais, ninguém me olha, ninguém mais sabe que eu existo, você tem pressa, eu quero que fique mais um pouco, não não quero que fique nem mais um minuto, nunca mais quero vê-lo, você não me conta mais do seu livro, da minha personagem, não sei se um dia me reconhecerei nele, não sei se um dia me reconhecerei em você, nos presentes, nas cores que gosto, você me beija, não tenho mais forças, agarro seu braço, não agarro braço algum, você sai, fecha a porta.

Estou de volta, estou de volta ao meu cabelo despenteado, ao meu infinito, à minha lista de compras, ao meu silêncio, ao meu cigarro, à esta cidade dos infernos, ao barulho dos carros, ao meu livro de cabeceira, meus comprimidos, meu corpo cansado, minhas teses, minhas olheiras. Estou de volta à vida mas não é a vida, é apenas uma espera até que você entre por aquela porta, entre diferente, entre como era, quando era um risco se apaixonar, quando havia aquela música que eu não podia escutar, quando o que eu mais queria era rabiscar nos muros da cidade o nosso segredo, os mais sagrados.

Estendo a mão, alcanço o seu copo, quase que instintivamente, sem saber o que faço, sem saber direito o que tenho nas mãos, aproximo o copo das narinas, sinto o cheiro da sua boca, do resto de vinho, você pediu do mais caro, tenho saudade dos vinhos baratos, do dinheiro contado, da sua falta de regras, dos poemas que me escrevia na pele, dos medos que tinha, do sorriso que me dava – por mais que eu estique o braço não alcanço mais você, a idéia que eu fazia de você, de poeta irresponsável que eu repreendia, por que não podia ser igual a todos os homens era o que eu repetia, você não devia ter me ouvido, devia ter deixado a barba, devia ter ligado o rádio, devia ter recusado aquele emprego, devia ter desistido, mas não, você não fez nada disso, seguiu com o meu plano, com o seu plano diabólico, apenas para me esfregar na cara que fez tudo o que eu queria. Era a sua colaboração com o nosso amor, era o seu sacrifício. Acho que somos ambiciosos demais, não acreditamos que tudo está perfeito mesmo quando está, a felicidade é sempre algo inatingivel, o amor impossível, o outro apenas uma resposta aos nossos anseios, sei que é a sua cara isto, vai transformar este meu desconforto num texto tão bonito que eu vou querer matar você depois de ler, querer matar por me invadir deste jeito, por roubar o que me é tão íntimo.
O meu nome? O meu nome é ninguém. Para que você quer saber? Eu vou abrir aquela porta, entrar e sair. Apaga a luz que é cedo ainda, vai ficar tudo bem. Os anjos não existem. Eu não sou um deles. É só uma coincidência que eu possua um par de asas. Precisa tempo para se conhecer. Será que você não tem nada mais com o que se distrair? Posso sugerir um livro se você não consegue dormir, mas não vou ficar abraçada até que você pegue no sono. Depois quem vai fazer o mesmo por mim nas noites em que eu também me sentir assim? Você? Você que só quis casar e ter filhos comigo porque se sentiu sozinho? Devia ter me deixado de primeira, seria bem mais simples: um jato d´água e tudo se resolvia.

De que adianta começar algo se fica-se sempre pelo caminho? Agora eu sou diferente mas daqui há alguns meses eu vou ser igual a todas as mulheres que você já conheceu: os mesmos defeitos, a mesma necessidade de se sentir superior. E você? Você que é lindo. Saiba que eu já menti para homens como você e que eu faço isto muito bem. Se faz sentido para você senta e bebe comigo, depois não vá dizer que eu não fui seu amiga.

O meu coração? O meu coração dura só uma noite depois fica proibido de se misturar. É porque eu já morri e você não sabe a dor que é deixar alguém para trás. A pessoa quer correr na sua direção mas não tem mais direção, quer sentir o seu cheiro e é outro o perfume, não quero fazer o mesmo contigo, pareço cruel mas só lhe desejo o bem, por isto apago todo e qualquer vestígio. Meu nome? O meu nome é ninguém.